CRUZES E MEDALHAS
Muitas das pessoas que se ajoelharam numa gruta da Serra de Sintra tinham veneras como estas consigo. Muitas das pessoas que entraram na propriedade do Convento dos Capuchos da Serra de Sintra, se ajoelharam num confessionário ou na igreja do Convento – a tal gruta – carregaram medalhas religiosas como estas ao pescoço – presas por um fino pedaço de cordel, ou tendo-as nos rosários, nos terços, que ao longo das suas vidas as acompanhavam.
Quando os populares – principalmente, mas também religiosos – tentavam fazer com que ficassem mais elaboradas, tornavam-nas em pendentes de uma corrente de elaborados elos, os quais eram em metal de baixíssimo valor. Devido à oxidação e à qualidade do metal, quando hoje em dia ainda é possível observar veneras com as suas correntes originais, as mesmas parecem-nos detritos metálicos do século XX. No entanto, pelo hábito presente principalmente na Península Ibérica, é praticamente certo que também terão percorrido os corredores do Mosteiro da Pena, do Convento dos Capuchos da Serra de Sintra, do Convento do Carmo, do Convento da Santíssima Trindade, nas mãos, pescoços e recônditas nos hábitos dos religiosos que os habitaram, como filhos de Deus que perdidos habitavam ermos da Serra de Sintra.
As veneras eram escolhidas pelo seu possuidor tendo em conta a preferência por alguma entidade do Cristianismo, devido às qualidades e poderes a essa invocação associados. Através dessa preferência, desse gosto, quem carregava a venera no peito – ou no seu rosário, no seu terço - sentia-se mais protegido, motivado, via esses poderes serem adequados à sua vida ou circunstâncias de vida que eram por si então vividas. No fundo, sentia que as suas necessidades de vida – além dos desígnios de Deus – eram a prossecução que fazia parte da existência e qualidades da invocação, ao sentir-se por ela protegido.
Na primeira metade da centúria de 1500, por exemplo, as veneras eram ainda mais rudimentares pois os seus moldes eram fabricados à imagem daquilo que era pedido, assim como de cada artista que os produzia. No início de 1600 passaram a ter de ser produzidas de forma uniforme, segundo indicação vinda de Roma. Com o passar dos séculos algumas veneras começaram a ser executadas tendo inscrito o local de emissão. O exemplo que mais facilmente se encontra com isso relacionado é “Roma”. Do século XIX encontramos uma difusão muito maior desses lugares, encontrando também uma maior facilidade de produção de veneras, utilizando ligas de metal ainda mais pobres. A par disso existiu uma modernização das figuras assim como das legendas nas medalhas inscritas.
Inequívoca é a beleza das veneras, destas medalhas religiosas, emitidas na Península Ibérica, e quando comparadas com o resto da Europa.
Em Espanha já é possível perceber em que mosteiros algumas dessas veneras foram emitidas. Isso é especialmente notório na Ordem de São Jerónimo, que se manteve contida ao território delimitado pela Península Ibérica. Um dos que mais se destaca em Portugal é aquele que é conhecido como Mosteiro dos Jerónimos, em Belém; em Sintra, tendo ficado marcados na história da Serra e tendo deixado gravada a história de Sintra em palavras, encontramos o Mosteiro de Penha Longa (na parte Sul da Serra) e o Mosteiro da Pena (onde hoje vemos o Palácio da Pena). Alguns dos registos da história do Mosteiro da Pena estão directamente relacionados com as duas faces de uma venera emitida por Jerónimos em Espanha e tendo São Jerónimo como uma das invocações.
Algumas dessas veneras produzidas na Península Ibérica eram também significativas para os nossos Capuchos da Serra de Sintra, por terem sido emitidas por ordens franciscanas da Península Ibérica, e pelas suas invocações estarem directamente relacionadas com a regra de São Francisco. O caso mais explícito são as veneras que têm como invocação São Francisco de Assis e Santo António de Lisboa (ou de Pádua).
Mas também foram significativas pelas suas invocações, para o Convento da Santíssima Trindade da Serra de Sintra; e para o Convento do Carmo (próximo a Colares); e para todos os frequentadores de capelas, ermidas e santuários da Serra de Sintra, tão cheia de beleza humana e simbolismo devido ao Cristianismo, por ter sido um meio religioso com uma grande intensidade, pelas suas inúmeras edificações cristãs – quer aquelas ainda hoje existentes , quer pelas suas estruturas que já não existem – e ainda pelas intensas vidas que hoje em dia podemos conhecer através das crónicas religiosas.
Por vezes as veneras apresentam um grande desgaste devocional por as mesmas terem sentido o passar dos dedos dos crentes enquanto oravam às suas entidades, às suas invocações. Mas quando as medalhas religiosas ainda apresentam os seus traços principais, é-nos permitido descortinar pela sua morfologia e características, de que século são, que ordem as terá emitido, e a razão de certos traços, legendas, pares de invocações e símbolos. São assim uma forma de mais sentirmos os acontecimentos de suas épocas, pela sua criação. E pelo seu sentido estético e métodos de produção, algumas são verdadeiras obras de arte.
Além das medalhas existiram também diversas espécies de amuletos, os quais não eram pendentes e representavam miniaturas de santos. Existiam também pequenas imagens de bronze que eram cosidas a vestes ou chapéus, sendo isso mais frequente acontecer quando se tratavam de romeiros ou peregrinos. E existiam também crucifixos que algumas pessoas carregavam ao peito, alguns – pela sua morfologia e tipologia – tendo significados além-Crucificação.
O que mais impressiona é conhecermos estas realidades de séculos passados e sabermos o quão influente em nossas vidas a busca de protecção poderá ser.
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CRUZES E MEDALHAS
São Francisco de Assis ::: Nossa Senhora da Conceição
medalha, venera, verónica
anos de 1600
Santo Anastácio ::: São Venâncio de Camerino
medalha, venera, verónica
anos de 1700
* Santo Anastácio era também invocado para exorcismos
Nossa Senhora da Conceição
medalha de prata; formato janela
fins de 1800, inícios de 1900
Rainha Santa Isabel de Portugal ::: Santo António
medalha, venera, verónica
anos de 1600
* possibilidade de ter sido produzida para assinalar canonização da Rainha D. Isabel (1625)
Nossa Senhora da Piedade ::: Santa Maria Madalena
medalha, venera, verónica
anos de 1600
Anunciação da Virgem ::: Nossa Senhora da Conceição
medalha, venera, verónica
anos de 1600
Cristo Salvator Mundi ::: Mater Salvator
medalha, venera, verónica, com aplicação de ouro (dourada a mercúrio (ormolu))
anos de 1600
Santo António e o Menino Jesus
imagem de bronze para coser na roupa
anos de 1600 ou anos de 1700
Cristo Crucificado com Caveira e Ossos Cruzados aos Pés
crucifixo
anos de 1600
* com Nossa Senhora da Conceição no reverso
Crucificação de Cristo ::: Nossa Senhora da Piedade
medalha, venera, verónica
anos de 1600
Sete Beatos da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) ::: Nossa Senhora das Dores
medalha, venera, verónica
anos de 1700
Sepultamento de Cristo ::: Nossa Senhora das Dores
medalha, venera, verónica
anos de 1700
Nossa Senhora da Conceição ::: São Francisco de Assis
medalha, venera, verónica
anos de 1600
Santíssimo Sacramento ::: Nossa Senhora da Conceição
medalha, venera, verónica
anos de 1700
"Santo Antonin de Padova" ::: Nossa Senhora da Conceição
medalha, venera, verónica
anos de 1700
Rainha Santa Isabel de Portugal ::: Santo António
medalha, venera, verónica
anos de 1700
Santa Teresa de Ávila ::: São José e o Menino Jesus
medalha, venera, verónica
anos de 1700